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Seedorf autografa camisa levada pelo volante Gabriel (Foto: Thales Soares / Globoesporte.com) |
- Os brasileiros têm virtudes interessantes, especialmente jogando juntos. Nunca vi um falar mal do outro pelas costas. Isso mostra que o crescimento do país não é casual, mesmo com todos os problemas que ainda precisa resolver e as dificuldades. Mas já existe esse espírito, de um sempre apoiar o outro. Para o brasileiro é mais difícil ser sério, tirar o drama que o futebol leva em várias situações. Precisa de uma mentalidade mais europeia para dar esse equilíbrio - analisou Seedorf.
O discurso sobre o futebol brasileiro também serve para o Botafogo. Seedorf já disse outras vezes que sua motivação para aceitar o convite do clube foi o desafio da mudança e como poderia contribuir em uma situação diferente das que já havia passado em sua carreira, em clubes da elite mundial, como Milan e Real Madrid. Ele acredita no trabalho que vem sendo realizado para conquistas futuras.
- Se o Botafogo tiver coragem, força e tranquilidade para continuar nesse caminho que o clube começou há quatro anos, é uma questão de tempo. Nada é construído em doias dias. Uma casa não é feita em dois dias, principalmente sabendo onde o Botafogo estava antes. Foram muitos trabalhos bem feitos, mas só olham o resultado no campo. O torcedor está certo em ver assim, mas internamente, qualquer clube precisa de um projeto para construir alguma coisa. Se o resultado vem antes, tudo bem, mas você não pode fazer um time forte agora para depois ficar 20 anos sem ganhar porque não construiu uma base - comentou o holandês.
Família, vida e música
Nessa sua nova vida, Seedorf tem sua família, que mantém distante dos holofotes, administra de longe três restaurantes japoneses na Itália e conta com projetos sociais no Suriname, sua terra natal. No Brasil, ainda espera fazer mais e tem na Copa do Mundo de 2014 uma boa oportunidade de investimento no futuro.
- Minha felicidade é quando consigo dar algo a alguém. Não falo em dinheiro, mas uma palavra, uma atitude. A felicidade do outro é a minha. Quem sabe dar sem pedir, vai receber também. Isso não significa que não goste de fazer dinheiro, negócios, mas você pode fazer isso com certos valores. Na vida, não há só o futebol. Apenas 1% chega ao máximo nível. Por isso, as crianças precisam entender como a escola é importante - disse.
A vida no Brasil, segundo o próprio Seedorf, tornou-se mais fácil do que ele mesmo esperava. A adaptação tem sido simples, mas com métodos de trabalho, uma rotina e temperaturas bem diferentes do que estava acostumada em 20 a nos de futebol europeu. Até mesmo no relacionamento entre os membros da comissão técnica, o holandês percebeu diferenças.
Aqui, quando levanto, está sempre sol. Uma qualidade de vida para treinar muito boa. No Brasil, o preparador físico fala mais, tem uma interferência maior, o que na Europa não existe. Lá, ele faz o trabalho dele e vai embora"
Seedorf
- Aqui, quando levanto, está sempre sol. Uma qualidade de vida para treinar muito boa. No Brasil, o preparador físico fala mais, tem uma interferência maior, o que na Europa não existe. Lá, ele faz o trabalho dele e vai embora. No Brasil, todo mundo está sempre presente, na preleção, há uma participação de todos. A comida também. Tem muita - brincou Seedorf.
Sempre sorridente e com tiradas bem humoradas, Seedorf falou sobre seu lado cantor. Fã de Bob Marley, Michael Jackson e soul dos anos 60 e 70, ele chegou a gravar ao lado do irmão Jurgen. No Brasil, citou Ivete Sangalo como a mais popular até agora, mas fez elogios aos estilos em geral.
- Nada que ouvi até agora aqui fez barulho na minha orelha. Algumas têm um ritmo mais interessante, como pagode, samba, bossa nova. Mas a Ivete Sangalo é a que eu mais conheço. Nas festas, toca o tempo todo. Gosto de cantar mesmo, mas de onde vem, não sei. Tenho um irmão também que canta muito bem. Os escravos sempre cantavam para botar o estresse para fora. Talvez tenham limpado a voz para a gente. Acho que todo mundo deveria cantar. Faz bem para a alma - disse Seedorf.
A carreira de jogador está em seus últimos anos, mas o futuro ainda é um mistério para Seedorf. Seu contrato com o Botafogo vai até o dia 30 de junho de 2014. O holandês não gosta de fazer previsões e diz que muita coisa pode mudar de um ano para o outro.
- Vou fazendo coisas que estão no meu caminho. Há três anos não pensava em vir para cá jogar futebol. As coisas mudam - afirmou Seedorf.
Por Kiko Menezes e Thales Soares Rio de Janeiro